terça-feira, 20 de abril de 2010

Um primeiro tijolo



A principio duas informações sobre mim: uma poesia simples (que segue ao final desse texto) e a confissão de que me é completamente doloroso dar nome a poesias. Não sei, não sei. É estranho nomear algo assim tão subjetivo e pequeno, algo que nem deveria ser mostrado, publicado, então por que nomeado? Poesia quase sempre vem de dor e ninguém batiza suas dores, esquece-se delas e se ainda teima em lembrá-las, faz-se uma poesia. Por isso não deve haver nome que é pra se pensar que aquilo escrito é só algo bonito, e nada doloroso.

Se é pra dar nomear, prefiro dar títulos a contos, até porque o próprio título do conto já é uma poesia (nasce bem antes da escrita) e o conto é só um pretexto para que seu título (que é poesia) possa existir. Enfim, esse blog também nasce de um pretexto, que é o de talvez não querer morrer nunca, ou de querer ultrapassar a morte, de transformar um pensamento pequeno em um maior, em esticar-me até outros olhos e outras mentes e, dessa forma, ir vivendo (ou sobrevivendo) enquanto me creio lido (e talvez entendido).

E falando em entender-me, disseram-me outro dia que escrevo muito sobre coisas e sobre casas. Disseram-me antes e percebi depois que, de fato e de forma bem contínua, a casa e seus cúmplices (os objetos) estão quase sempre no que escrevo e todos eles assim cimentados já estavam nessa poesia escrita em algum momento, entre meus 22 e 23 anos. Tempo que não volta mais porque não precisa voltar (graças a Deus!).

Pois bem, a escrita, eu creio e escrevi sobre isso num conto, pode curar ou trazer o câncer. E eu posso amontoar cânceres imaginários em casas imaginárias, sem muitos problemas. Só para escrever e escrever. Para sempre ou até a próxima linha.

Sou uma casa quase morta
E sua quebrada porta
Bata nela com calma,
Mas bata!
E dos confins de uma sala
Cheiamente vazia
Parecerá soar uma voz jaz macia
A convidar para entrar
E encontrar um além
Muito além de qualquer mobília
Que quer ser nova (bela talvez)
E ainda secretamente sobreviver
À ruína disfarçada e absoluta
Dessa casa intencionalmente muda.

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